domingo, 22 de maio de 2011

Postagem esquecida


Não é novidade que os valores familiares estão enfraquecendo em meio a tanto divórcio, a emancipação  e a tripla jornada feminina, essa vida louca de trabalhar pra ganhar dinheiro, e cada vez mais dinheiro,  mas fiquei feliz com um filme que assisti há alguns finais de semana. Não foi a primeira vez que o vi, mas foi a primeira vez que percebi quão sublime e original ele é.

Um final de semana um pouco mais tranquilo, mais pacato, assistindo alguns filmes... Depois de tanta chuva, tanta tragédia, e tantas coisas que destróem aquilo que levamos uma vida para construir ou até o que a própria humanidade ainda nem terminou (escrito logo após a tragédia no RJ e revisto logo após o ladrão levar meus livros e meu projeto de crochê)... Vi um dos poucos filmes que falam e fortalecem a Família, que está tão enfraquecida ultimamente. Como já foi dito acima, foi a primeira vez que o vi sob esse olhar: Marley e Eu  é um filme emocionante e comovente, mas não havia notado sua simplecidade e genialidade. 

Em meio a uma vida e uma mídia que enfraquecem as relações e os valores humanos, encontramos um filme que trata das relações humanas de modo a crer que suas adversidades podem ser superadas e que as relações podem dar certo, não o contrário, como ultimamente costumamos ver.

Somos incentivados pelos diversos meios de comunicação e até pelo nosso próprio estilo e vida a não nos dedicamos às nossas relações, mas sim a descartá-las, como mercadorias de supermercado com prazo de validade  prestes a vencer, e, assim, conforme nossas "necessidades" e conveniências, as relações expiram em seu prazo de validade e logo a "fila anda", processo no qual acabamos por tratar a si e aos demais como descartáveis. E foi isso o que me comoveu neste filme: temos "o pior cachorro do mundo" que, ainda assim, é amado; temos uma família cheia de problemas e possíveis frustrações (assim como na vida real) que, mesmo assim, permanece unida; as surpresas da vida são aceitas e superadas e, além disso, pudemos perceber que algo melhor do que aquilo que planejamos e sonhanos pode nos acontecer. Além disso, não vemos aqui o culto a uma inalcansável perfeição que se traduziria na ideia que nos é vendida de felicidade, mas o culto das verdadeiras relações humanas, em que problemas e defeitos são superados sem que, necessariamente, nos tornemos infelizes por isso.

sábado, 14 de maio de 2011

LínguA PresA

Quem me conhece sabe, eu falo tanto, que parece que a minha língua tem vida própria. Ela fala quando deveria calar e, nos raros momento em que cala, deveria falar, e, normalmente, falar muito. Deveria, por quê? Porque para falar aquilo que as pessoas querem ouvir, somos livres, mas ao falar aquilo que elas não gostariam de ouvir e, por isso, que nós não deveríamos ver ou perceber, acabamos enfrentando sérios problemas.

Fiz uma descoberta: a minha lígua não é livre, embora ela ignore completamente este fato e saia por aí dizendo "asneiras", numa enxurrada de letrinhas que, na maioria das vezes não agrada.

A minha língua possui conexão direta com o meu cérebro, nem sempre tenho forças para intervir nesta relação tão imediata, que chega a ser praticamente simultânea, intensa e contínua.

Pergunto: seria melhor não pensar? Humm...melhor pra quem? Não sei... Talvez nós - eu e a minha língua - tivéssemos menos problemas se meu cérebro não fosse tão ativo. Mas a Minha língua praticamente reflete toda a minha atividade cerebral, e ela é intensa (ambas)...

Talvez, também, fosse melhor não fazer tal pergunta, uma vez que é provável que eu (meu cérebro e a minha língua, numa dinâmica interação) não gostemos de saber a resposta, uma vez que pode não nos convir...


O fato é que para eu e a minha lígua sermos o que somos, é necessário que meu cérebro seja livre, que ele pense livremente, e sem preconceitos, o mundo que lhe chega pelos sentidos e não sei pelo quê mais... Meu pensamento é livre, mas, de fato é adequado ter o pensamento livre, com uma língua também livre, em uma sociedade cheia de preceitos e preconceitos, na qual, literalmente, "tudo que você disser poderá ser usado contra você no tribunal"? Acho que eu e minha língua e, para o meu bem, o meu pensamento "tem o direito de permanecerem calados". "E agora, José?", como diria o poeta...

Provavelmente, melhor seja que nenhum dos meus polêmicos e hiperativos órgãos não manifestem qualquer pretensão de realizar ato tão superior (o pensamento e a expressão deste, com o direito de recriar e reinterpretar  a realidade em seus moldes), pois pode ser nocivo a minha vida social e até profissional...

NÃO SOU LIVRE PRA PENSAR? Não. Alguém o é? Tenho esperanças!!
Mas isto não diz respeito a minha língua, que é apenas um órgão executor, que adora dar uma de doida e se descontrolar...meio que chutar o pau da barraca, ou cerrar as grades do pensamento, para que ele flua livre e sem amarras. É pena que ela manifeste rebeldia demais, coisa que é conveniente ao pensamento, sem chegar a sua expressão de fato, ou pelo menos à expressão verbal.

Será que, um dia, terei minha língua cortada? Pode ser que fique mais amena. Mas espero, verdadeiramente,  que o  pensamento flua cada vez mais intenso, repleto de novas possibilidades, diante da nossa clichê, porque aprisionada, realidade.

sexta-feira, 6 de maio de 2011

É festa?



O mundo ocidental está em festa... Aquele que idealizou os ataques de 11 de setembro foi capturado e assassinado... festejemos...

O que? Quantos soldados, ao longo desses 10 anos, morreram em nome de tal captura? Quantos ainda morrerão em uma provável represália, em que um novo Bin Laden renascerá? Assim começará uma nova e interminável caçada... Será a guerra uma saída? Não estaríamos nós, festejadores da morte do referido terrorista, alimentando o ódio e as justificativas para promover ainda mais violência? E mais vítimas...Não estou dizendo que deveríamos aceitar e nos resignarmos à arbitrariedade da intolerância e da violência dos terroristas, mas tenho dúvidas quanto ao mais adequado, se seria "combater" o terror, a intolerância, a violência gratuita, com mais guerra e intolerância, num ciclo vicioso e ainda imperialista, em que uma violência quer se sobrepor a outra e assumir a identidade de verdade absoluta...

Festejamos o  nascimento de um novo mártir, a renovação de uma antiga causa e o possível surgimento  de um novo líder, trazendo consigo sensações de medo e insegurança que nada tem a ver com paz ou com a paz de espírito que aqueles que perderam parentes, conhecidos, ou sofreram naquele 11 de setembro gostariam de ter agora, ou que a morte de um líder, teoricamente, deveria trazer..

Festejamos a morte de um culpado terrorista, assim como festejaram a morte das milhares de vítimas inocentes naquele dia. Será que um dia saberemos se valeu a pena? Não sei, mas não me parece moral festejar a morte de quem quer que seja... nem me parece cristão, como nos gabamos de ser...

Promovendo a guerra, não estaremos  promovendo o terror? Por isso, não entendo o motivo da festa. Festejemos alegrias, não guerras e mortes.

segunda-feira, 2 de maio de 2011

PERGUNTA INQUIETANTE

Esses dias, fui tomada por um desconcerto esquisito. Uma prima que praticamente nunca tinha me visto, veio à Fortaleza e resolveu passar lá em casa, pra fazer uma visita a sua bisavó. Até aí, não há nada de esquisito. No entanto, ela resolveu  falar comigo, e, depois de dizer oi, a primeira coisa que saiu da boca dela foi: " Tu faz o que?". Imediatamente, fiquei profundamente incomodada e me limitei a responder de forma desinteressante, dizendo, provavelmente, o que menos lhe interessava. Pois a tradução que eu dei para tal pegunta foi: "Quais atividades que você realiza pra ganhar dinheiro?". Então,  tal pergunta possuía em si uma audácia. que a minha voz não queria sair, para proferir a resposta, mas retruquei, dizendo que fazia Letras. Não satisfeita, ela perguntou "onde?" e eu, ainda educada, respondi e voltei ao que estava fazendo.

No dia seguinte, fui dizer à minha avó sobre tal desconforto e ela falou que nada havia em dizer quem eu era, bastava falar onde e como eu trabalho e estudo. Mas pensei que nada disso dizia quem eu sou e que mais parecia que eu estava dando meu currículo, em uma entrevista de emprego.

O mais interessante, é que, antes, isso ocorria, mas eu não me incomodava. Mas, agora, incomodou. Não quero ser o meu cargo, nem o meu salário. Não quero que a importância das pessoas na minha vida seja medida pelo tamanho da conta bancária. Não conheço as pessoas perguntando se ganham e como ganham dinheiro. É apenas isso que as pessoas tem pra oferecer? Espero que não...Espero também que conhecer pessoas vá além de conhecer seus salários. Espero que eu não seja a única.

Quero conhecer idéias e ideais, conhecer almas, dividir questões inquietantes... Eu poderia ter dado todo o meu currículo profissional, e acadêmico também,mas vou e sou além e mais complexa do que isso.

As pessoas que se resumem ao quanto e como ganham dinheiro talvez sejam rasas e simples demais para que provoquem em mim qualquer resposta. Pessoas assim não me interessam. Quero, e penso que todos devam querer, a humanidade e a complexidade que há em cada ser e assim descobrí-lo, conhecê-lo. Não essa obviedade banal, cansativa e entediante da aparêcia e da lógica de mercado.

À todos, espero que sejam profundos e complexos e que fujam de tamanha pequenez e da lógica das relações impostas pelo sistema, pois, segundo as idéias marxistas, o capitalismo adentrou as relações humanas, transformando-as em relações de troca, superficiais, em que é necessário valorizar o ter e o parecer, em detrimento do ser!

Talvez, este seja um papo cansativo, talvez não, talvez seja por isso que fiquei inquieta com a pergunta "inocente", porque não quero estar mais imersa no sistema do que já estou, quero preservar a humanidade em  mim e nas minhas relações, quero me relacionar com seres e não com meros objetos e coisas representativas daquilo que instituíram como "ser", que acaba sendo derivado do que chamam de "poder".